O desenvolvimento tecnológico e a rápida expansão do universo virtual deram origem a novos hábitos e comportamentos. Na mesma velocidade das mudanças, nós humanos fomos capazes de nos adaptar, absorvendo rapidamente todas as transformações revolucionárias do século XXI e, em muitos casos, sendo absorvidos por elas.

Em uma recente matéria da BBC, o psicólogo espanhol José Carlos Cueto coloca que o celular, com seus aplicativos e aplicações criaram algo muito maior do que uma mera ferramenta.

Tem gente que compara o celular a um martelo, […], mas não conheço nenhum viciado em martelo

José Carlos Cueto

De fato, eu também não conheço nenhum viciado em martelo, mas conheço muitos viciados em smartphones, notícias, aplicativos, redes sociais, jogos e pornografia. São viciados porque, ao contrário de um martelo, todas essas “ferramentas” afetam perigosamente o nosso sistema dopaminérgicosistema envolvido no circuito de recompensa do cérebro, podendo levar à dependência que, segundo o livro Dependência de Internet: manual e guia de avaliação e tratamento (Young K.S. & Abreu C. N., 2011. Capítulo 8) se caracteriza por:

  1. um comportamento que produz intoxicação/prazer (com a intenção de alterar o humor e a consciência),
  2. um padrão de uso excessivo,
  3. um impacto negativo ou prejudicial em uma esfera importante da vida e
  4. a presença de aspectos de tolerância e abstinência.

Neste outro artigo eu explico melhor sobre a dopamina e porque esse neurotransmissor é tão importante, mas resumidamente ele está relacionado à sensação de prazer, motivação, humor, emoções e cognição. Na neurobiologia da dependência de substâncias, por exemplo, o aumento da concentração de dopamina (junto à sensação de prazer) associa-se ao uso da droga, afetando assim o sistema de recompensa do cérebro. Ou seja, José Cueto parece não estar errado em dizer que a diferença entre o vício em drogas e o vício em celular não é tão grande como muitos de nós imaginamos.

Na entrevista dada ele não recomenda o autodiagnostico, mas dá três dicas para nos ajudar a identificar alguns comportamentos que deveriam ligar o alerta vermelho. Acrescentei mais algumas outras dicas presentes em outro artigo sobre nomofobiao termo é uma abreviação do inglês para no-mobile-phone phobia, ou seja, o medo irracional de ficar sem o aparelho celular e vício digital:

  • Quando impedido de acessá-las você apresenta instabilidade emocional.
  • Você frequentemente deixa de trabalhar, passar tempo com família e amigos e praticar exercícios para passar mais tempo “conectado”.
  • Você acaba ficando muito mais tempo conectado do que havia planejado.
  • Mentir sobre a quantidade de horas conectado
  • Apresentar irritabilidade ou depressão

Além disso, para uma vida mais saudável, deveríamos também evitar esse hábito durante as refeições, antes de dormir e quando em companhia de outras pessoas. Acredito que o mundo virtual nunca poderá superar o mundo real e suas inúmeras possibilidades de experiências verdadeiramente significativas.


1 Comment

Jenifer · 24 de outubro de 2021 at 03:22

Excelente publicação, estamos cada vez mais perdendo o interesse genuíno pelo outro, optando pelas interações virtuais e consequentemente mais superficiais.
Necessário um olhar ampliado para tal questão e sobre as sequelas que irá nos causar.

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