Eram vésperas de Ano Novo, solidariedade, alegria e esperança, mas talvez não tanto no estacionamento hiper lotado do atacadista. Chegando, foi preciso dar algumas voltas para encontrarmos nossa “vaguinha” (o amor é definitivamente maior pela vaga que pelos concorrentes). Ainda por cima, o calor é de matar. Descendo do carro, eu e minha esposa, ambos ainda contagiados com esse belo espírito de ano novo e velhos hábitos, nos dirigimos para a entrada do mercado. Ainda no meio do caminho (vaga sofrida é quase sempre longe) fomos surpreendidos por um gesto inesperado de bondade: Uma jovem mulher veio gentilmente oferecer o seu carrinho, muito simpática, desacompanhada, bem vestida para aquele calor de praia e claro, ignorando por completo minha dama ao lado. Antes mesmo do meu sentido-aranha de homem casado dar o sinal de alerta, a resposta veio, quase como que partindo de dentro de mim. O tom foi tanto mais desconfiado quanto mais bem intencionada a pobre moça. Mas por favor, não julguem minha linda esposa, a mulher ou as mulheres, juro que foi um simples erro de percepção auditiva. Enquanto ouvia “moço, quer o carrinho?” ela certamente ouvia “moço, quer carinho?”. Daí a confusão e não ouso acrescentar mais uma vírgula, afinal quem quer ficar sem o carinho da mulher amada, ainda que depois viéssemos a descobrir em meio a gargalhadas que, pela primeira vez na vida, não havia sequer um mísero carrinho no supermercado.
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