-Amor, na volta, passa na farmácia e compra um teste de gravidez para mim? Uma única sentença ouvida logo pela manhã é capaz de desregular todos os ponteiros internos da mente de um homem. Algo como um jet lag de quem acabou de ser despachado no outro lado do mundo, como as pobres malas nas mãos daqueles agentes de rampa dos aeroportos que descarregam nelas todo um cuidado especial.
Ela parece bem calma, pensei. Isso é bom sinal. Não há de ser nada. Provavelmente. Mas, e se essa tranquilidade foi calculada para não me perturbar? É…Talvez. Talvez sim. Talvez não. Não sei. Não sei de mais nada. Exatamente isso. Sim. Exatamente isso. Meu chão virou céu, meu céu virou mar, meu mar virou sertão e eu estou na roça. Que roça? Nem eu sei. E como agora? Muito menos isso. Sei apenas que todas as falsas certezas de minha vida naufragaram-se no espaço de alguns minutos. Excelente.
-Sim, amor. Digo muito tranquilamente. Para não perturbá-la. Afinal, o homem quer estar no controle. Inabalável. Como o piloto que, suando em bicas, anuncia a turbulência. Alguns passageiros até viram-se para o lado com risadinhas. Outros permanecem dormindo, ou continuam suas leituras.
Sigo o meu dia buscando traçar um plano de voo caso a cegonha decida aterrorizar aterrissar na pista que ainda estava em construção. Maldita cegonha. Vais mesmo fazer isso comigo? Não era o que tínhamos acertado. Pensa na criança criatura. Na criança! A criança. Ah, a criança. Uma bênção. Uma beleza! Menino ou menina? Vem pro papai vem! Bendita cegonha…Ainda lhe prego uma peça.
0 Comments