O tema de uma das primeiras crônicas que li em minha infância foi sobre o tempo, 25 anos atrás. Lembro-me, fiquei maravilhado e, neste exato momento, estou tentando resistir ao impulso de revisitá-la. Deixemos ver como essas antigas impressões de infância ressurgirão no mais novo e velho eu de agora.
Naqueles saudosos dias, mal sabia eu, era muito feliz. Nunca havia tempo a se perder e pouco tempo se perdia de fato. Imune aos efeitos do tempo, não sabia dizer de quantos dias era o mês e tampouco sabia ler os ponteiros do relógio (coisa inútil). Hoje, mais velho e mais sábio (como costumam dizer), aprendi um pouco sobre as relações do tempo, espaço e gravidade, olha só, e já penso ser sabido, quase um cientista controlando assim suas variáveis. Inocência de criança grande, tão logo se vai o devaneio.
Voltando-me aos saudosos dias de minha infância, o tempo, creio eu, era infinito. A vida parecia não ter fim. Nunca. Mas, esses bons e velhos tempos não duraram para sempre e hoje o tempo é definitivamente relativo. Ao que eu muito provavelmente responderia: Se é relativo então quer dizer que não existe, oras! Confesso que é difícil discordar, hoje em dia a relatividade parece deixar tudo tão confuso e às vezes dá a impressão que no fundo não explica nada.
Lembro-me também, com um sorriso no rosto, do super poder que tinha de dobrar as horas a meu bel-prazer. Dobrava o tempo como dobrava os meus aviõezinhos de papel nas aulas que demoravam a passar. Fazia o tempo voar num piscar de olhos, literalmente. Do mesmo jeito que ninguém podia prever na carteira (ou na cabeça) de quem iria aterrissar o aviãozinho, hoje sou eu que tento adivinhar o meu destino, pois na maior parte do tempo, é ele quem me dobra à própria sorte (aos Seus propósitos [para ser mais otimista]), feito aqueles origamis que tiveram o azar de cair nas mãos de uma criança tentando fazer um tsuru pela primeira vez na vida, quantas marcas meu Deus!
Assim o tempo vai passando, e ao mesmo tempo as horas se fazendo a cada instante mais presente e esse presente cada dia mais distante, pois com o tempo não se tem mais tempo para mais nada e o presente passa, passa e passa por cima da criança, do adolescente, do jovem, até que por fim passa a ser mera sombra do passado à luz de um futuro que que no fundo não deixa de ser um fruto só da imaginação (o Sr. Tempo não é muito bom em ficar imaginando coisas), o que tiver de ser já foi e o futuro só a Deus pertence.
Enfim, por fim, e apesar das evidências, não acho que o tempo seja desumano, como a terrível imagem do deus Cronos devorando seus bebês inocentes. Isso porque agora nos 45 do segundo tempo, ele mesmo revelou-me o seu lado mais benévolo: O dr. Tempo, quase um médico da família. Garanto que, com um pouco de fé e paciência, ele lhe trata bem.
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